2 - Introduction

Teria Sting violado a floresta virgem ?

ou "Ossos do ofício" - Rolling Stone (França), em janeiro de 1990 por Mark Zeller

Neste artigo, o jornalista Mark Zeller traça um primeiro balanço depois de um pouco menos de um ano de existência da Fundação Rainforest, matriz de ONGs presentes em 7 países diferentes, incluindo os Estados Unidos, Inglaterra, Brasil, França e Bélgica (haverá 12 no total, incluindo o Japão e a Noruega, ainda ativos em 2016). Usando um tom muito amargo contra Sting, quanto a origem dessa Fundação que se propagou de forma impressionante, ele tambem não esquece Jean-Pierre Dutilleux, e traz um esclarecimento explosivo sobre a diferença entre a visão que o público pode ter da defesa prestigiosa de uma causa nobre, e da maneira como realmente foi conduzida na ocasião.

Anexo 005: artigo "Teria Sting violado a floresta virgem" (França), janeiro 1990

por Mark Zeller

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A origem da Fundação Rainforest

Em 1989, todos os eventos acontecem em um alinhamento quase milagroso que resulta com a criação da Fundação Mata Virgem, Rainforest Foundation em Inglês, Associação pour la Fôret Vierge em francês. A promulgação da nova Constituição do Brasil, o assassinato de Chico Mendes (grande defensor do meio ambiente no Brasil), a renúncia do Banco Mundial do projeto da barragem Kararao (futuro Belo Monte), uma campanha de amplitude levada pelo Survival International, que servirá de modelo para a criação da Fundação Rainforest, e obviamente de Sting, envolvido em uma campanha da  Anistia International no Brasil.

A defesa da Amazônia vai de vento em popa. Os povos indígenas do Brasil têm sua notoriedade necessária. Eles não são conhecidos pelo público, e vão encontrar sua encarnação em Raoni, uma pessoa que todos terão a impressão de conhecer. Na França, o presidente Mitterrand, eleito há menos de um ano, será o primeiro Chefe de Estado estrangeiro a se encontrar com o chefe Raoni.

A operação de comunicação funciona à todo vapor. Trata-se de levantar US $ 3,5 milhões para proteger a floresta. Só aparentemente, já que o objetivo é de fato estabelecer de uma só vez uma das principais ONGs na proteção da Amazônia, e também captar um novo público doador graças a aura de Sting. Tudo isso em um só projeto, esse de unificar as terras Kayapó onde vive Raoni, quando isso já estava oficialmente registado pelas autoridades brasileiras!

 

Controvérsia

Será que o dinheiro arrecadado com as 7 filiais da Fundação Rainforest realmente ajudou na demarcação do que hoje é o Parque Nacional do Xingu, onde ainda habitam os Kayapó, e especialmente Raoni, numa terra demarcada antes da chegada de Sting na história?

É claro que o mecanismo de financiamento, se houve, foi muito indireto. Em particular, a demarcação não podera realizar-se sem a assistência, em cada fase, das autoridades brasileiras. É difícil avaliar o quanto e em benefício de quem, mas podemos tirar a conclusão de que trabalhar para a Fundação Rainforest permitia viver confortavelmente, ou até mesmo podia assegurar uma carreira prestigiosa em função do país de localização, que não era sujeito a controles rigorosos quanto ao organismo internacional suposto a coordenar cada uma de suas filiais nacionais. A prova disso é que hoje em dia a Fundação Rainforest da Noruega e Japão são totalmente independentes da sede.

 

Dutilleux e o dinheiro

Segundo o jornalista, em suas próprias afirmações, Jean-Pierre Dutilleux estava plenamente consciente de que ele estava se aproveitando de um movimento favorável aos interesses dos índios, com a promulgação da Constituição de 1988 no Brasil. Iniciar uma campanha internacional pela demarcação das terras era a certeza de resultado em algo que teria acontecido mesmo sem sua ajuda, embora possamos estimar que, de certa forma, essa repercussão internacional e o dinheiro arrecadado puderam acelerar o processo.

É especialmente a criação de uma máquina de guerra para promover seus filmes e livros, o resultado principal desta campanha de 1989. A Fundação Rainforest teve um sucesso imediato em todos os países em que foi criada. Jean-Pierre Dutilleux reconhece neste artigo que foi para ele um meio de melhorar significativamente a sua situação financeira pessoal. Quase sem teto para morar em 1986, aqui está ele na companhia de doadores ricos e outros mundanos atraídos pela luz que irradia a maior estrela da música pop da época, em jantares de caridade e em vendas de arte. Tudo isso, claro, regado a muito caviar e champanhe, disserta Mark Zeller.

Um momento de descanso na vida agitada de um aventureiro que sempre usa o seu visual "roots" no meio dos fatos? Não, Dutilleux realmente gosta de ser o centro das atenções e isso não mudou. (A seguir nos nossos próximos artigos.)

 

UM ARTIGO QUE DÁ ESCLARECIMENTOS MAIS ATUAIS.

Destruir a Amazônia em nome da "defesa nacional" já era a palavra-chave de um governo da direita brasileira desde o início de 1990. Sabemos agora que o mesmo aconteceu aos dois presidentes subsequentes, membros do Partido do Trabalhadores (PT), ditos à esquerda, mas que não mudaram essa orientação fundamental.

Também tomamos conhecimento com este artigo que o presidente Sarney teria declarado empregar ambientalistas (como Sting e Dutilleux) como "Cavalo de Tróia" para ocultar a contribuição de multinacionais estrangeiras ao desenvolvimento capitalista no Brasil. Quando os interesses brasileiros não estão satisfeitos, eles servem como reduto para o apetite das empresas estrangeiras neocolonialistas. Quando é alcançado um acordo, eles só fazem operações de comunicação, ganham dinheiro com a sua fundação, e não impedem nada no terreno. Deste modo, todo mundo está feliz. Prático. Exceto para os índios.

 

UM RESPOSTA POSTERIOR, EM OUTRO JORNAL

Em 12 de fevereiro, surge um artigo resposta na revista “Globe" (descontinuada alguns anos mais tarde). O título do artigo é "Sting contra-ataca". Ele consiste em uma entrevista dupla de Sting e Jean-Pierre Dutilleux. Fato surpreendente: o artigo é realizado por Gert Bruch, que hoje é presidente da Planète Amazone, uma ONG que trabalha com Raoni e os Kayapó desde o ano 2010. Analisemos o conteúdo em primeiro lugar, depois o método de comunicação empregado.

 

Anexo 006: artigo "Sting contra-ataca", extraído da revista Globe, de 12 de fevereiro de 1990

par Gert Bruch

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OS ARGUMENTOS DE STING

Ao contrário do que disse a Rolling Stones, Sting diz extremamente preocupado com os Yanomami e afirma que a Fundação Rainforest envia ajuda médica. Ele detalha mesmo o mecanismo dessas operações e a principal fonte de custos: transporte aéreo de equipamentos e de médicos as áreas pouco acessíveis da Amazônia. Além disso, ele se justifica dizendo que o trabalho da Fundação Rainforest construiria uma relação dos índios entre eles mesmos e com as autoridades brasileiras, tudo acompanhado por uma pressão internacional. 

Sting diz que ele não faz isso com prazer e que está pronto para ceder seu lugar... Depois de colocar 250 mil do seu próprio dinheiro no caso, ele espera que alguém possa substituí-lo para continuar um trabalho que é mais complexo e mais difícil do que o esperado. Além disso, ele se retirará de campo no ano seguinte, mas a criação  Fundação e algumas vitórias do mundo indígena durante esse período não são suas únicas razões. Nós voltaremos a isso.

 

AS CONTORÇÕES DE JEAN-PIERRE DUTILLEUX

Desde o início de sua argumentação Jean-Pierre Dutilleux disse que a fundação seria controlada pelos índios. A sede brasileira é em Brasília, ou seja a 500km e o resto em países longiquos. O que eles poderiam controlar? É também um belo jogo dizer que ele persuadiu seus colaboradores para não transmitirem a maior parte do dinheiro aos índios, quando ele é capaz de admitir que também se beneficiou do sucesso da fundação para aumentar seus lucros. 

O capital inicial foi fornecido por Dutilleux? Ou são os 250 mil dolares de Sting? Jean-Pierre não parece conseguir precisar a soma que ele mesmo doou à Fundação (entre 60 000 e 100 000 mil dolares) Mesmo se essas fotos de 1987 venderam muito bem, não está claro como Jean-Pierre Dutilleux poderia ter essa soma de dinheiro quando ele declarou ter enfrentado dificuldades financeiras em 1986. Então, seria mentira, exagero ou outra coisa?

Sobre o primeiro livro, Amazônia luta pela Vida (Jungle Stories), co-escrito com Sting, Dutilleux disse que ele doou a integralidade dos direitos de autor à Fundação. Qual o valor dessa soma?

 

PORQUÊ DUTILLEUX NAO ATACA NA JUSTIÇA ?

É interessante ver que a única mensagem da qual ele se defende concretamente nessa entrevista não diz respeito a sua reputação, mas a um erro factual do jornalista sobre o tamanho das terras demarcadas. 

Se, como ele pretende, o conteudo do artigo não foi bem comunicado pela redação da Rolling Stones, eles estavam, Sting e ele mesmo em pleno direito de exigir um direito de resposta a propósito de esses elementos, ou de apresentar queixa diretamente. Essa não foi a atitude de Sting, nem de Dutilleux que prefere rejeitar tudo fazendo gesto com a mão. Finalmente isso não incomoda Jean-Pierre Dutilleux, nem o que dizemos sobre ele ter enriquecido às custas dos índios. Então, se lembramos tudo isso  agora, 25 anos depois, que vai ele dizer? Será que ele vai explicar tudo isso claramente?

 

SUMÁRIO GERAL :

JEAN PIERRE DUTILLEUX, A BARRAGEM BELGA DA AMAZÔNIA

1. POR TRÁS DO FILME “RAONI” (1979 – 2015)

2. STING EXPULSA DUTILLEUX DEVIDO A ENRIQUECIMENTO PESSOAL (1990)

3.UM BELGA EXPLORA OS ÍNDIOS DA AMAZÔNIA E TENTA UM GOLPE DE 5 MILHÕES DE $ NA EUROPA (1991)

4. UM DEPÓSITO ILÍCITO DA MARCA RAONI (2010)

5. DUTILLEUX PROIBIDO DE ENTRAR EM TERRITÓRIO KAYAPÓ E PERSEGUIDO POR VENDA DE FOTOS (2000-2004)

Anexos do documento